quarta-feira, abril 16, 2003




"[...] todos nós perdemos o hábito da vida, todos nós somos mais ou menos coxos. A tal ponto nos desacostumámos dela, até, que chegamos a sentir uma espécie de repulsa pela «vida viva» e odiamos que no-la lembrem. Pouco falta para que a encaremos como um trabalho, quase um serviço, e estamos todos de acordo, no fundo, que é melhor nos livros. E por que nos agitamos às vezes, por que deliramos, o que pedimos? Não o sabemos. Seria pior para nós se as nossas preces fossem satisfeitas. Dêem-nos, por exemplo, mais independência, desamarrem-nos as mãos a todos, alarguem o campo das nossas actividade, abrandem a vigilância e nós... garanto-vos: a primeira coisa que faríamos seria voltar a pedir que nos vigiassem.
[...]
Somos todos nado-mortos, desde há muito tempo, e os pais que nos engendram, são também mortos, e tudo isso nos agrada cada vez mais. Tomamos-lhe o gosto. Em breve inventaremos o meio de nascermos de uma ideia."


Dostoiévski, in Cadernos do Subterrâneo



salamandrine 20:14



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